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Operação policial no Rio deixa 119 mortos e amplia debate sobre uso da força

Publicada em: 29/10/2025 15:59 -

Dezenas de corpos são levados por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Foto:Tomaz Silva/Agência Brasil 

A Operação Contenção, realizada na última terça-feira (28) pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, deixou 119 mortos — sendo 115 civis e quatro policiais — segundo atualização do secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, nesta quarta-feira (29). A ação, considerada a mais letal da história do estado, tinha como objetivo conter o avanço do Comando Vermelho e cumprir 180 mandados de busca e apreensão e 100 mandados de prisão, dos quais 30 foram expedidos pelo estado do Pará, parceiro na operação. “A operação de ontem foi o maior baque que o Comando Vermelho levou”, afirmou Curi. “Com perda tão grande de armas, de drogas e também de lideranças.”

Durante a ação, foram apreendidas 118 armas, sendo 91 fuzis, além de toneladas de drogas, segundo estimativas da Polícia Civil. O secretário ressaltou que o foco era desarticular a estrutura criminosa e capturar foragidos de alta periculosidade.

O secretário de Segurança Pública do Rio, Victor dos Santos, apresentou uma versão diferente sobre o número de vítimas. Segundo ele, a operação deixou oito vítimas:

“As vítimas dessa operação são quatro inocentes feridos sem gravidade e quatro policiais que infelizmente faleceram.”

Na versão oficial, os demais mortos seriam criminosos que reagiram à ação. “A alta letalidade que se verificou era previsível, mas obviamente não era desejada”, afirmou o secretário.

Durante a coletiva de imprensa, as autoridades exibiram imagens da operação e destacaram que a ação foi planejada e seguiu os protocolos legais, incluindo o uso de câmeras corporais. Parte das gravações, contudo, pode não ter sido registrada devido à duração da operação e à descarga das baterias.

Segundo o governo, o confronto foi deslocado para uma área de mata, para reduzir o risco à população civil. Foi nesse local que ocorreu a maior parte das mortes.

Corpos retirados da mata por moradores

Na madrugada e manhã desta quarta-feira (29), moradores e familiares retiraram corpos da mata e os reuniram em uma praça no Complexo da Penha. Questionado sobre a ausência de socorro e a retirada dos corpos pela própria população, o secretário Victor dos Santos respondeu que a polícia não tinha conhecimento dessas mortes. “Todos aqueles que foram retirados na madrugada ou manhã eram criminosos que sequer a polícia tinha conhecimento deles. Muitos são baleados e entram na mata procurando ajuda”, afirmou.

Ele também reconheceu que o número de mortos pode aumentar conforme as buscas continuarem. “Não foi consolidado ainda, pode ser que tenha aumento.”

Apesar da justificativa oficial de que a operação foi “ação legítima do Estado”, o episódio gerou forte reação de movimentos sociais, especialistas e organizações internacionais de direitos humanos, que classificaram a ação como massacre e denunciaram a falta de proporcionalidade e transparência nas ações policiais. 

Com 2,5 mil agentes mobilizados, a Operação Contenção é a maior operação policial realizada no Rio de Janeiro nos últimos 15 anos.

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